terça-feira, 1 de outubro de 2019

O RISCO DE DEMISSÃO NOS CORREIOS: O PROBLEMA DA FALTA DE CONSCIÊNCIA DE CLASSE.

    Em O Manifesto Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels apresentam os fundamentos do método de investigação do campo das ciências sociais conhecido por Materialismo Histórico Dialético. Um dos princípios chave de seu método investigativo, ou forma de abordagem na construção do conhecimento sobre os fenômenos sociais, é a ideia segundo a qual as relações sociais, sobretudo as que ocorrem na produção da vida material, não são decorrentes de fenômenos ocorridos no plano do extra material, de correspondência da Ideia ou da vontade do Absoluto, da divindade, mas o resultado da evolução das forças produtivas, entendidas como a conjugação dos meios de produção, a base material da produção social, e o homem. Como reflexo da evolução das relações sociais de produção, a partir de um dado momento histórico, os meios de produção se tornam propriedade privada de uma parcela diminuta dos membros da sociedade, de uma classe social, o que vai ocasionar reflexos na forma de divisão dos resultados do trabalho social, gerando assimetria na posse da riqueza material. As relações sociais capitalistas de produção, ou o Capitalismo, são o resultado da evolução das forças produtivas, tendo simplificado as relações sociais, e as classes sociais. Logo do início, o Manifesto Comunista registra: "A história de todas as sociedades até agora tem sido a história das lutas de classe". Sendo constituída, inicialmente, por diversas classes sociais, o modelo Capitalista simplifica as relações sociais sob duas classes antagônicas: a burguesia, dona dos meios de produção, e o proletariado, cuja única mercadoria de que dispõe para negociar é sua própria força de trabalho!
    As relações sociais de produção, sobretudo a propriedade privada dos meios de produção, com os reflexos na forma de distribuição desigual do resultado do trabalho, por meio da figura do lucro (lucro é o resultado do trabalho não pago, e apropriado pelos detentores dos meios de produção), leva ao surgimento do Estado, instituição cuja função é garantir a propriedade privada dos meios de produção, e a posse desigual da riqueza material por parte de uma parcela reduzida da sociedade, da burguesia. Conforme o texto do Manifesto do Partido Comunista, o Estado é um comitê destinado a gerir os interesses da burguesia!
    Tendo suas condições materiais de vida empobrecida pela distribuição desigual dos resultados do trabalho, cuja legalidade se dá por meio da legislação estatal, às classes desprivilegiadas, os proletários, só resta se organizarem, num primeiro momento, para tomar os aparelhos de Estado, de modo a obter poder na correlação de forças. 
    A movimentação da classe trabalhadora, os proletários, no sentido da tomado do poder estatal só terá condições de se desenvolver com a tomada de consciência dos seus interesses enquanto classe, de sua condição diametralmente oposta em relação aos donos dos meios de produção, ou Capital. Daí o papel da ideologia, cuja função é produzir uma leitura enviesada da realidade, segundo os interesses da classe burguesa. A ideologia burguesa se instala na religião, na legislação, na Cultura, se constituindo numa superestrutura destinada a atuar sobre a consciência da sociedade como um todo, e dos trabalhadores em particular, de modo a viabilizar a reprodução da estrutura social. Como resultado, por meio da Cultura, da superestrutura, os trabalhadores acabam por adotar a leitura da realidade segundo a concepção burguesa, tendo como consequência a falta da tomada de consciência, e, por extensão, da movimentação no sentido da tomada do poder do Estado!
    Durante as eleições passadas, grande parte da classe trabalhadora tomou partido num projeto de sociedade, e de Estado, manifestamente contrária a seus interesses, influenciada unicamente por preconceitos elaborados por setores conservadores. A sociedade embarcou num projeto no escuro, construído, de fato, sob o discurso vazio do candidato que agora é presidente. Bolsonaro não participou de debate, não apresentou plano de governo! Mas mesmo assim a sociedade, e os trabalhadores, embarcou! Dentre os trabalhadores que saltaram no escuro, estão o pessoal das estatais, e grande número dos servidores públicos da administração direta. Foram, como diz o ditado, buscar lã, e voltaram tosquiados!
    Um vídeo dos funcionários dos correios circulou na internet, em apoio entusiasmado ao então candidato Jair Bolsonaro. Logo, no entanto, depois de tomar posse, o governo Bolsonaro tomou medidas completamente contrarias aos interesses, não só dos correios, como também dos trabalhadores em sua totalidade! Os correios, cuja parte dos funcionários embarcaram na onda, foi posto no programa de privatização, com ameaça de demissão de grande parte dos seus 105 mil funcionários, conforme matéria publicada no portal G1! De acordo com a mesma matéria, a redução de funcionários nas estatais já passa de 10%, com o número de demissões podendo chegar a 25 mil só neste ano. São trabalhadores que, por não ter alicerçada uma consciência de classe, contribuíram para o seu próprio pesar.
    É o que dá não saber seu lugar na sociedade, no Estado e na História!         

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OS DESAFIOS PARA A ESQUERDA.

 

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